14 de fev. de 2012

Todo trabalho merece um salário?

A lógica se aplica a todos, mas não da mesma forma: a “concorrência internacional” impõe a alguns reavaliar suas pretensões salariais; ela autoriza outros a negociar seu “talento” a preço de ouro. E se outra lógica determinasse a definição das remunerações?
Eilis Lawlor, Helen Kersley e Susan Steed, três pesquisadoras britânicas, abordam, não sem alguma malícia, a questão das desigualdades, comparando a remuneração de certas profissões, selecionadas nos dois extremos da escala das rendas, ao “valor social” criado por seu exercício. No caso de um trabalhador da reciclagem, que recebe 6,10 libras esterlinas por hora (R$ 17), as autoras estimam que “cada libra paga em salário gera 12 libras de valor” para o conjunto da coletividade. Em contraposição, “enquanto recebem remunerações compreendidas entre 500 mil e 10 milhões de libras, os grandes banqueiros de negócios destroem 7 libras de valor social por cada libra de valor financeiro criado”. Assim, o saldo coletivo das atividades mais bem remuneradas se mostra às vezes negativo, o que sugere a causa da tempestade financeira iniciada em 2008...

Batizado de “retorno social sobre o investimento”, o método utilizado para quantificar o valor gerado por um emprego prende a teoria econômica clássica em sua própria armadilha. Os altos salários refletiriam a contribuição dos altos executivos para a empresa. “O pensamento ortodoxo diz que nossa utilidade vem do dinheiro, apontam as pesquisadoras. Quanto mais ganhamos, mais somos úteis. Deduz-se daí que, para maximizar o bem-estar coletivo, a renda total tem de crescer.”


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