16 de fev. de 2012

Aniversário de 32 anos do PT em Minas - a conversa não acabou

Rafael Barros: Carta aberta ao “Coordenador Geral do PT”
Prezado Glenio Martins,
Peço licença para responder seu comentário, copiado abaixo, que foi encaminhado na data de hoje para um grupo de pessoas que posteriormente passei a fazer parte. Recebi sua mensagem, sem, contudo me ter sido possível ler a primeira carta que motivou sua resposta. Mas não considero necessário lê-la.
Escrevo não como militante e/ou filiado petista, mas como membro do grupo ou movimento que esteve na porta do restaurante onde foi comemorado os 32 anos do PT. Escrevo para refutar uma acusação inverídica e que só pode ter sido motivada por uma prática, infelizmente outrora tão combatida pelo “partido dos trabalhadores”, mas que hoje faz parte de suas condutas mais triviais.
Um: faltar ao compromisso da verdade ou levantar acusações infundadas é uma prática a muito conhecida na história do país. Sempre foi a prática dos poderosos, dos rancorosos e dos ressentidos num jogo de encobrir fatos reais a partir de situações ou condutas falaciosas. Não houve naquela ocasião participação de manifestantes pagos. Nós que ali estávamos, apesar do seu desconhecimento, fazemos parte, sim, da cidade, de movimentos sociais, de sindicatos e somos também moradores de vilas e favelas, mas também da zona sul, da zona oeste, leste, nordeste, barreiro, venda nova… Nós somos a voz dos descontentes, única oposição real e efetiva aos desmandos do atual governo (PSB/PT) sem necessitar, contudo, de uma organização vertical, de uma arregimentação partidária. Talvez o desconhecimento disso parta de um distanciamento que seu partido tem hoje desses grupos e movimentos, um dia tão caros a ele.
Dois: já fui filiado ao PT e um bravio militante. Mas a conduta partidária me levou ao seu distanciamento por motivos que você, aqui, nos acusa. Um exemplo: o de não acreditarmos no projeto socialista. Ora Glenio, você acredita mesmo que o Partido que um dia promoveu grandes churrascões “de gente diferenciada” e hoje comemora seu aniversário a portas fechadas, numa glamurosa cantina da capital mineira, com ingressos limitados ao valor de $100 reais é o grande exemplo de projeto socialista? Ouvi ontem de Antônia, uma petista aguerrida, que o PT deixou de ser um partido há muito tempo. Argumentava ela: “como posso crer que esse é de fato um partido já que a muito abandonou suas instâncias democráticas de decisão. Onde caciques e mandatários impõem seus interesses à maioria, onde os mandatos tem mais força e voz do que sua base de sustentação, onde o projeto de poder atropelou o projeto político?” Não preciso aqui relatar aos de dentro como se dão os processos de filiação a cabresto, as votações compradas, as imposições da cúpula nacional, a inserção de políticos sem nenhum histórico de luta e resistência e com práticas eleitorais abomináveis… A questão que se coloca não é se o PT continua sendo ou não um partido dos trabalhadores. A questão que se coloca é quando o partido vai construir a consciência de que ele já não é mais aquele partido dos trabalhadores. Assumir essa realidade é fundamental para que ele pense a si mesmo e possa se redefinir ou terminar de se destruir.
Três: O candidato Márcio Lacerda nunca foi uma opção para a cidade. Ele é uma imposição à cidade. Uma imposição por parte de duas forças políticas hegemônicas. Ele é a figura máxima da desintegração da democracia. Sua eleição foi resultado do abuso de poder político e econômico, da aliança de forças políticas antagônicas, mesmo em caráter informal que, segundo os ditames legais, houvesse nesse país e nessa cidade justiça de fato, impediriam sua eleição. Ele é resultado daquilo que sempre combatemos historicamente: uma política provinciana, coronelista, sem rastros no seio da sociedade. E por mais que muitos discordem de mim, é impossível separar a figura humana do homem político. Quem teve a oportunidade, como eu, de se confrontar com o Sr. Márcio Lacerda pode perceber que sua visão de mundo é limitada, elitista, pragmática, distante da de um homem público, carregada de preconceitos e imposições. Essa é marca da atual administração. Marca que desconheço como sendo a de um projeto socialista, igualitário e humano.
Contudo companheiro, a grande questão que se coloca é se de fato uma aliança entre o PT, PSB e PSDB é uma questão do partido ou uma questão da cidade. Se o PT ainda guarda em suas raízes as características que você reclama é necessário que ele escute quem de fato é sua razão de ser: a sociedade. Você se equivoca porque é justamente uma aliança dessa natureza que assassina a política, destrói os conflitos, dilui as diferenças constitutivas de forças políticas tão díspares. Essa aliança transforma nosso mundo desigual em uma única massa amórfica fazendo, uma vez mais, os miseráveis se submeterem aos poderosos. Pergunto: qual é a grande preocupação do PT – é a de ganhar as eleições, de se manter no poder, ou lutar por um projeto político transformador?
Bem, essa é uma questão do partido. Nós, aqueles 20, mas muitos outros, muitos mais, já definimos nossa escolha. E temos também nosso projeto de cidade. Estamos nas ruas e em outros tantos espaços lutando por algo que ainda acreditamos. A vocês cabe a escolha de revisitar o passado e assumir um caminho. Ou rompem com esse lógica que todos sabem, não levou a lugar nenhum, ou entreguem de uma vez a cidade para o PSDB, para o Aécio Neves, e se enterrem. Não preciso lembrar como foi a votação da presidenta Dilma em BH nos dois turnos, não é mesmo?
Saudações com respeito!
Rafael Barros
Esta carta aberta é uma resposta à mensagem enviada pelo “Coordenador Geral do PT” aos membros do partido e que pode ser lida, respondida e comentada, AQUI.

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