19 de mar. de 2008

Ah! Se fosse na Grécia!

Ela sempre gostara daquele prédio. Desde a primeira vez em que o vira.
Tinha cara de ser um destes bancos estilosos que gostam de apresentar toda a sua tradicional história em locais assim, clássicos. Mesmo quando eles têm 20 anos de idade e compram o que lhes aparecer pela frente. Uns novos ricos, umas Rainhas da Sucata!
Então... imaginou logo o dia da inaguração. E as pessoas se perguntando se não havia um equívoco e ali seria uma Biblioteca.
Porque, na verdade, era assim que ela o definira: um banco, com cara de Biblioteca.

Vejam só: um palacete, com altíssimas colunas na porta, uma escadaria curta e nobre descendo suavemente até a calçada, com paredes de mármore rosado, lindas janelas em vitrais e aquele telhado em V de cabeça para baixo? Só podia ser o quê? uma biblioteca, oras.
Se fosse na Grécia, ela teria jurado que era um Templo. Mas, ali, naquela terra?? Ou era museu, ou era biblioteca, ou era banco.
E justo, ali, naquela avenida?? Não poderia haver dúvidas.

E todas as vezes, namorava o bendito e pensava: "mas, que banco com cara de Biblioteca!!! é lindo mesmo. Um pecado um banco bonito assim"

Ao sair do cinema, depois de ouvir estórias que encheram os olhos de lágrimas, saiu saltitante vento à fora.
Agora era pegar o ônibus, atravessar duas horas de pontos cheios de gente e pontes entupidas de carros, chegar em casa e ver novela.

Mas, justo neste dia, quando pela enésima vez se encantou com o prédio do banco-que-devia-ser-uma-biblioteca, notou que havia um quadro de horários grande, bem na porta:


08:00 h.

17:00h.
18:00h
Semana Santa, todos os dias! Venha participar conosco!


E um portão lateral estava aberto.

Encafifamento geral. Pane esdrúxula!
O quê um banco tinha a ver com a Páscoa?
Curiosidade matou o gato. Mas, também foi o que fez Darwin vir para a América do Sul. E, sem dúvida, libertou as mulheres de serem evinhas-costela-de-adão.
Portão adentro.
meudeus! era um templo.
Lindo, simples, quieto, sagrado, quase vazio.
Ela se ajoelhou. Não despendurou a bolsa que estava atravessada no corpo, que uma coisa é ficar seguro em uma Igreja, outra é esquecer que se está no mundo.
Se ajoelhou e rezou. E se benzeu. E agradeceu. E enquanto elevava os pensamentos ao mais Alto, pensava: isto precisa ser colocado em conto no blog. Vai começar assim: "ela se ajoelhou."
A generosidade celeste é mesmo divina, pois não é que ao terminar ela estava novamente em lágrimas? E desta vez nem era com a estória dos outros; mas só assim...consigo.

(Liliane M. A. Silva)

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