30 de mar. de 2007
Freud
22 de mar. de 2007
escorregão das verdadezinhas
DOGVILLE: A CIDADE DO CÃO
Filipe Pereirinha
Sobre este filme, o último de Lars Von Trier, tem sido dito e escrito um pouco de tudo. No essencial, as críticas tendem a aproximar-se de dois extremos: o amor incondicional ou o ódio sem reservas. Há aqueles que elogiam o arrojo formal que passa por uma aglutinação de géneros (teatro, literatura, cinema) e há, igualmente, aqueles que consideram que tudo não passa de um embuste. Seja como for, e sem entrar na polémica, uma coisa é certa: o filme está aí e não nos deixa indiferentes
Pelo menos em três aspectos, este filme não é o que parece. Ele parece ser, antes de mais, um filme sobre a América dos anos trinta (a época da grande depressão económica), mas é, em vez disso, um filme sobre a nossa época, isto é, sobre o tempo em que a grande depressão já não é apenas económica, mas ameaça alastrar a toda a nossa vida (o que levou alguns a dizer que esta é a doença do século XXI). O filme retrata-nos sob a forma de uma população em que o desejo dorme e o gozo da depressão é o que comanda a nossa pequena existência.
Além disso, ele parece constituir um retorno às grandes parábolas mítico-religiosas fundadoras da civilização ocidental, mas, em vez disso, ele é uma paródia (uma subversão) dessas parábolas e uma alegoria do nosso modo de vida actual. É por isso que, exemplificando, Moisés já não é o que traz as tábuas da lei do monte Sinai, mas o nome de um cão (Moses) que assinala a chegada da des-graça (Graça) àquele lugarejo das montanhas rochosas onde se passa toda a acção do filme.[2]
Finalmente, ele parece ter como protagonistas a Luz da razão (Tom Edison) e a Graça salvadora (Grace), mas, na verdade, o real protagonista deste filme é Moses, o cão de Dogville. É ele que antecede e anuncia a vinda da Graça (Grace) e o que sucede à extinção da luz (Tom Edison). Anunciado desde o título (Dog-ville), ele marca, por assim dizer, a cadência deste filme. No final, quando Moses, o único que sobrevive à matança e ao extermínio, ganha finalmente corpo (pois até aí ele permanecera invisível, apesar de ser nomeado e de se ouvir o seu latido), o espectador não pode deixar de se aperceber de que aquilo que nos ladra e nos arreganha os dentes é a verdade finalmente desvelada: o cão pulsional (ou o gozo) que acorda e se mostra quando a civilização, e tudo o que dela faz parte, são virados do avesso.
Há um momento, já perto do final, em que o pai de Grace (de quem ela fugira, vindo cair e entregar-se nas mãos daquele “mundo cão”, que a explorou até ao abjecto) lhe propõe, como forma de castigar e assustar o povo de Dogville, que se mate um cão. Trata-se claramente de uma paródia do famigerado sacrifício que o Deus do Antigo Testamento exige a Abraão, como prova suprema de amor; isto é, que sacrifique o seu bem mais precioso, matando o seu único filho. O que parece estar fundamentalmente em causa neste episódio bíblico, para além do dramatismo angustiante da situação, que alguns filósofos não deixaram de comentar (por exemplo Kiekegaard, aliás compatriota de Lars Von Trier), é a instauração da lei enquanto simbólica. Na verdade, quando se prepara, obedecendo cegamente à voz de um deus obscuro (à maneira dos antigos deuses) para matar o seu próprio filho, um anjo vem deter-lhe o gesto, mostrando-lhe, em troca, o animal (um carneiro) que será sacrificado no seu lugar. De ora em diante, este Deus já não exige mais o sacrifício real de vidas humanas, mas antes um sacrifício simbólico por amor e em nome-do-pai.
Porém, esta tentativa de recobrir o real pelo simbólico deixa restos. A começar pelo próprio texto bíblico, onde muitos episódios (parodiados igualmente neste filme) parecem denotar mais o gozo real da vingança de um deus que ainda não aprendeu a perdoar do que a lei simbólica do pai. É um pai vingador deste tipo (o chefe de um bando de gansters, versão moderna da horda primitiva de que falava Freud) que, no filme, diz “mata-se um cão” (dog). Não se trata, por isso, apenas de uma metáfora (no sentido em que se pouparia toda uma população, substituindo-lhe o sacrifício de um animal, à maneira do episódio bíblico), mas antes de algo mais real, perturbador e simultaneamente mais ambíguo: é que, na verdade, o “cão” a que se alude não é apenas o animal, mas pode ser qualquer uma daquelas personagens que acolheram Grace, quando esta fugia do pai para vir encontrar o pior. Na época do Outro que não existe (Lacan) e em que o lugar tradicionalmente ocupado por Deus (God) ficou vazio, o que vem no seu lugar (eis o que o filme mostra por meio de uma torção topólogica) é o Cão (Dog), o avesso de Deus. Como este, o cão de Dogville é omnipresente, mesmo se permanece invisível a maior parte do tempo.
É o cão que ladra quando Grace chega à sua cidade: Dog-ville. É um “mundo cão” que a acolhe Grace e lhe faz pagar caro este acolhimento, impondo-lhe literalmente uma “vida de cão”. A tudo isso, ela perece responder com amor e abnegação. Tal como responderam as “mulheres-vítima” de filmes anteriores do autor (por exemplo, Breaking the Waves e Dancer in the Dark). Todas estas mulheres parecem ter um percurso e uma função crística: deixando-se explorar por amor, elas realizam uma espécie de via sacra até…à redenção.
Só que, em vez da cruz redentora, o que os “cães” de Dogville impõem à Graça (literalmente: aquilo que lhes foi dado de graça) é uma “coleira de cão”[3]. E é talvez aí que começa a viragem. Na verdade, para ser franco, esta “viragem” já está indiciada desde o princípio, quando Grace aparece a desculpar-se pelo facto de ter roubado um “osso” ao cão. Há aí um indício claro do que vai revelar-se mais tarde quando Grace, mostrando os dentes, como fez outrora Medeia[4], mostrar que também tem um “osso” canino. É no momento crucial em que o pai (revelando-se, finalmente, menos assustador do que seria suposto, condescendente até) lhe propõe que se mate um cão em vez de todos os “cães”. Grace, servindo-se embora de dois significantes paternos (a arrogância e o poder), vai muito para além daquilo que o pai lhe propõe e decide tomar nas suas próprias mãos a execução de Tom Edison, fazendo-o morrer “como um cão”[5]. É nesta medida que Grace nos revela uma outra faceta das “mulheres” de Lars Von Trier, menos óbvia em filmes anteriores. Mudando de uma posição de “vítima” para uma posição de “carrasco” e “justiceiro, ela mostra que, sob a aparência do amor ou do poder, o que se esconde, afinal, são diferentes posições de gozo.
Não deixei de pensar, ao ver uma das últimas imagens do filme (um cão que ladra e arreganha os dentes), no lugar onde os “cínicos” (que se auto-denominavam “cães”) costumavam ensinar. Era o lugar do “Cão ágil”. O que sobrevive a todas as personagens do filme, nomeadamente àquele filósofo e escritor falhado[6] (Tom Edison), não é, afinal o “cinismo” do próprio realizador ao propor-nos este objecto estranho[7]? Resta acrescentar que este filme faz parte de uma trilogia “americana”. Veremos, então, se se trata simplesmente de uma atitude perversa (como alguns têm sugerido a propósito deste e de outros filmes de Lars Von Trier) ou de uma posição ética. Aliás, na origem, o “cinismo” grego era, antes de mais, uma posição ética.
[1] Como reconhecia acertadamente João Peneda no seu oportuno e inteligente texto sobre o filme (http://usuarios.lycos.es/acfportugal/acfportugal).
[2] Curiosamente, talvez para mostrar que aquela América é uma outra forma de dizer “aldeia global”, nenhuma cena é gravada na América, mas antes na Suécia.
[3] Uma das coisas que Nicole Kidman (Grace) parece não ter suportado muito bem.
[4] Da filmografia de Lars Von Trier consta precisamente este título (1988).
[5] Tal como se lê no final do “Processo “ de Kafka: “Morreu como um cão”. É mais uma paródia.
[6] Com que, de alguma forma, Lars Von Trier se identifica, ao dizer, numa entrevista, que gostaria no fundo de ser como Grace, mas era como Tom.
[7] Strange é uma das palavras mais usadas por Nicole Kidman durante as filmagens.
21 de mar. de 2007
... E Lacan
Recurso gráfico utilizado no texto original para dizer do eu (je) e distingui-lo do eu (moi). Tal qual Lacan faz em O seminário - livro 2 de 1954.
Querido Descartes
15 de mar. de 2007
Plagiar...pode?
algumas vezes é o melhor a fazer. sem pudores.mas com honestidade. e aí nem é plágio, é citação literal.
: )
"Texto, que não deve ser do Veríssimo mas é divertido...
O USO DE DROGAS
(Depoimento emocionado de Luiz Fernando Veríssimo sobre sua experiência com as drogas).
Tudo começou quando eu tinha uns 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de experimenta, depois quando você quiser é só parar... e eu fui na dele. Primeiro ele me ofereceu coisa leve, disse que era de "raiz", da terra, que não fazia mal, e me deu um inofensivo
Mas a parada foi ficando mais pesada, o consumo cada vez mais freqüente, comecei a chamar todo mundo de "amigo" e acabei comprando pela primeira vez.
Lembro que cheguei na loja e pedi:
- Me dá um CD do Zezé de Camargo e Luciano.
Era o princípio de tudo! Logo resolvi experimentar algo diferente e ele
me ofereceu um CD de Axé. Ele dizia que era para relaxar; sabe, coisa
leve... Banda Eva, Cheiro de Amor, Netinho, etc. Com o tempo, meu amigo
foi me oferecendo coisas piores... o Tchan, Companhia do Pagode e muito
mais.
algo mais pesado, mais desafiador, que me fizesse mexer os quadris como
eu nunca havia mexido antes. Então, meu amigo me deu o que eu queria, um CD do Harmonia do Samba. Minha bunda passou a ser o centro da minha
vida, razão do meu existir. Pensava só nessa parte do corpo, respirava
por ela, vivia por ela!
minha decadência. Fui ao show e ao encontro dos grupos Karametade e Só Pra Contrariar, e até comprei a Caras que tinha o Rodriguinho na capa.
Quando dei por mim, já estava com o cabelo pintado de loiro, minha mão tinha crescido muito em função do pandeiro. Meus polegares já não se mexiam por eu passar o tempo todo fazendo sinais de positivo. Não deu outra entrei para um grupo de pagode. Enquanto vários outros viciados cantavam uma música que não dizia nada, eu e mais outros 12 infelizes dançávamos alguns passinhos ensaiados, sorríamos e fazíamos sinais combinados.
Mas a fase negra ainda estava por vir. Cheguei ao fundo do poço, ao limiar da condição humana, quando comecei a escutar popozudas, bondes, tigres, MC Serginho, Lacraias, motinhas e tapinhas.
Hoje estou internado em uma clínica. Meus verdadeiros amigos fizeram a única coisa que poderiam ter feito por mim. Meu tratamento está sendo muito duro doses cavalares de MPB, Bossa-Nova, Rock Progressivo e Blues.
Mas o médico falou que eu talvez tenha de recorrer ao Jazz, e até mesmo a Mozart, Beethoven e Bach.
Queria aproveitar a oportunidade e aconselhar as pessoas a não se
entregarem a esse tipo de droga. Os traficantes só pensam no dinheiro.
Eles não se preocupam com a sua saúde, por isso tapam a visão para as coisas boas e te oferecem drogas. Se você não reagir, vai acabar drogado alienado, inculto, manobrável, consumível, descartável, distante.
Vai perder as referências e definhar mentalmente. Em vez de encher a
cabeça com porcaria, pratique esportes e, na dúvida, se não puder distinguir o que é droga ou não, faça o seguinte:
-Não ligue a TV no domingo à tarde;
-Não entre em carros com adesivos "Fui.....";
-Se te oferecerem um CD, procure saber se o indivíduo foi ao programa da
Hebe e ou ao Domingo Legal do Gugu; Mulheres gritando histericamente são outro indício;
-Não compre um CD que tenha mais de 6 pessoas na capa; (essa é boa!)
-Não vá a shows em que os suspeitos façam passos ensaiados;
-Não compre nenhum CD que tenha vendido mais de um milhão de cópias no Brasil, e...
-Não escute nada em que o autor não consiga uma concordância verbal
mínima.
Diga não às drogas!
A vida é bela! Eu sei que você consegue!"
14 de mar. de 2007
Guimarães: porque deserto num tem lugar certo.
12 de mar. de 2007
Classe Média
vamos lá..segunda correção.
o DJ me avisou que este vídeo foi publicado no FJB (filhso do jacaré banguela) e não no JB. Ok agora DJ? rs. E para quem não conhece o JB...está dando bobeira.
Classe Média
CORREÇÃO IMPORTANTE: o DJ me lembrou que não foi no site do Jacaré Banguela que achei esta maravilha. MAS na comunidade deles no orkut. E SE vc ainda não conheceo JB....disse e repito: sua medianisse pode estar acima do que vc imagina!
8 de mar. de 2007
Dignidade.
Eu fico encucada.
A polícia não deveria defender as pessoas? de quem, por um motivo ou outro... com um discurso ou outro... não compreende que os seus interesses devem ser limitados na medida em que ferirem o direito dos outros?
É assim mesmo.... é que funcionário faz o que o chefe manda e em tempos de crise e desemprego (por que será que os índices nos jornais nunca coincidem com o que a gente vê todo dia?) é bom ser obediente. E quando o chefe é assim atento e sabe de tudo que acontece em torno dele aí não há mais dúvidas: ainda que não concordemos com ele, deve haver um sentido que mais à frente perceberemos.
AGORA me digam: alguém que se entende salvador do mundo, detentor da verdade única e absoluta, senhor da liberdade e das vidas alheias....do que entendo (tudo bem, eu entendo pouco disso) seria internado como louco. certo??
ERRADO.
alguém só é internado por apresentar estes sintomas se for pobre, brasileiro e não conseguir manter o emprego.
se ele for milionário e norte-americano vira presidente. de um povo que só pode ser tão louco quanto ele.
mas tudo bem né. cada um que cuide do seu quintal.
mas pera aí...o nosso quintal é de quem mesmo?
e que a ESPERANÇA não morra. e que continuemos a apostar no nosso trabalho. e que o livre pensar seja uma virtude. eu faço a minha parte. e vejo os resultados. é o "algo possível". não é muito, nem mesmo tudo que eu gostaria. Mas uma coisa não é: conivência e omissão.
E vc? já encontrou o seu lugar nisto tudo?