28 de ago. de 2006

Corridinho
Adélia Prado


O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,com seus olhos cediços,

põe caco de vidro no muropara o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansadode tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come,
te molha todo.
Mas água
o amor não é.

o amor viajou.
voltou. nunca se foi.
chegou na madrugada.

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