21 de jul. de 2007

NÃO AO AEROPORTO DE CONGONHAS

Construir outro aeroporto não está em nossas mãos, a decisão de insistirmos e cobrarmos do governo está. Falar sobre o assunto, boicotar o aeroporto, exigir das agências outros vôos, etc.
Já passou da hora de eles nos levarem a sério.
Não importa o Partido político...isto ficou claro com o escândalo do PT. Os desvios éticos devem ser imperdoáveis.
Esta é uma discussão que não diz respeito apenas aos escândalos políticos em nosso país ou às tragédias áreas e rodoviárias ou à violência que virou rotina.
Também não importa a área em que circulemos, sempre somos convidados a ceder no que é nosso dever. Bom, só é possível falar do que vivenciamos e por isto recortei dois exemplos do meu trabalho para pensar isto tudo.
Há uma área da Ética que estuda o dever de cada profissão: a Deontologia. Além de ser uma palavra pouco conhecida, o seu significado tem se fragilizado, pois cada vez mais o dever do cidadão é a urgência em manter a família vestida e alimentada (se quisermos manter a discussão neste nível de necessidades). E isto certamente traz alguns viezes na discussão sobre os tênues limites entre certo e errado. E, de fato, a idéia da cama de Procrusto, onde as pessoas devem ser esticadas ou amputadas para se tornarem iguais, não vale à pena.
Mas, vamos aos dois recortes que me ajudaram a ter maior clareza sobre como o cotidiano do trabalho de todos nós pode ter desdobramentos muito mais amplos do que nos parece à primeira vista. Um dia, eu e alguns alunos, discutíamos sobre o processo da análise; a angústia que muitas vezes o paciente atravessa e os recursos que o analista possui para minorar isto. Uma aluna estava preocupada, corretamente, com o fato de o paciente sair da sessão descontente com a "não-resposta" que recebeu por parte do profissional e não voltar, não dar continuidade à análise.
"Ele não deveria sair dali se sentindo mais fortalecido? mais feliz? E nós não precisamos que ele volte para ganharmos o nosso dinheiro?" perguntou a aluna.
Esta questão é interessantíssima. Tem a ver com a função do analista e também com o fato de que todo trabalhador precisa e tem direito ao pagamento justo.
Em tempos de Discurso Capitalista, fugir do desprazer é a mais recorrente das propostas. De que modo o analista pode cumprir com o seu dever (a Deontologia do analista....qual seria? eu ainda penso que é "escovar palavras") e sobreviver em meio a tantas propostas de resolução rápida e indolor daquilo que não tem nome, mas que é tão sofrido aos pacientes?
Nadar contra a corrente. O psicanalista parece estar aí neste lugar.
Não que a análise não possua efeitos rápidos. Mas é que estes não podem ser garantidos a priori. Aliás, nenhum efeito pode. Há uma aposta na palavra como lugar do sujeito. Em Paraty ouvi o Mia Couto dizer: o lugar do escritor é a palavra. Bem..... para a psicanálise não apenas do escritor, mas de todos nós.
Eu sei. Isto parece tão pouco. Insuficiente mesmo. Ouço isto quase toda semana, de meus alunos queridos. Mas são o dizer e o fazer possíveis e honestos, por parte do psicanalista.
E quanto ao pouco.... de pouco não tem nada. Mas isto é uma discussão mais sinuosa e neste momento o que nos interessa é de que modo cada um encontra em seu cotidiano um limite ético.
Então, cumprir o nosso dever junto a cada pessoa que nos procura, e ganhar o dinheiro que nos é devido pelo trabalho realizado, se traduz em sustentar um percurso que parece em alguns momentos muito contraditório com o que é o objetivo do próprio processo. Ceder à vontade do paciente de uma resposta breve e mágica (isto é...SE o analista tivesse esta resposta. ELE NÃO TEM) ou ao nosso próprio desejo de ganho financeiro deste modo é tornar perversa esta relação. A relação transferencial que sustenta todo o processo analítico é uma relação de amor. E "o amor é pão feito em casa" (Leminski), não se sustenta no marketing vazio de alguém que detém um saber capaz de resolver a vida do outro.
Ganhar dinheiro com o amor fácil, tem um nome e acontece nas esquinas. E além de tudo não é lá muito justo e nem correto atrapalhar outros profissionais não é mesmo?
Esta resposta deixou a aluna assustada; a professora também. Fiquei uma semana tomada por isto circulando em meus pensamentos. A seriedade deste lugar de não-saber que o analista ocupa, e o exercício que nos exige estar aí.
Mas o profissional psicanalista não é diferente dos demais, na medida em que ele deve fazer uma escolha pessoal em ser assim ético.
O outro recorte que fiz diz respeito á minha função como Docente. Neste trabalho não me faltam alunos e pessoas que, utilizando da lógica de "cada um responde por si", entendem que o meu papel é dar aula, dar nota, dar presença, dar aprovação; e, se o aluno aprendeu ou não, quer aprender ou não, isto é problema dele.
É pouco verbo para tantas ações.
E nada disto permanece assim gratuito. Não é gratuito para o aluno que paga para aprender e não aprende...se ESTA for a intenção dele ao procurar uma faculdade; e caso não seja, então este é um motivo ainda maior para ele não prosseguir no curso com o aval das Disciplinas que leciono. Não é gratuito para a instituição que em tempo de concorrência tão acirrada perde muuuitos pontos ao não poder contar com a divulgação do boca a boca feita por alunos satisfeitos com a qualidade do Curso que escolheram (e pelo qual pagam, sem dúvida). Não é gratuito para o professor que entende como um compromisso ético incorruptível a formação de um profissional. Não é gratuito para as pessoas que serão atendidas um dia por aqueles que estiveram na faculdade e entederam que o professor tinha aqueles deveres citados no início deste parágrafo frente à mensalidade.
Vocês têm idéia de quantas vezes ouço: "mas eu pago a mensalidade em dia!" como argumento para ganhar algum ponto ou presença na aula?
Outro dia ouvi de um colega: a diferença é que quando o professor me eixigia algo que eu não sabia, eu pensava "preciso estudar mais". E agora quando nós somos exigentes o aluno pensa: vou à coordenação reclamar.
Mas o tema deste post não são as condições do Ensino Superior no Brasil. É a tragédia em Congonhas e o que é possível à população fazer. Há meses a crise que a aviação brasileira atravessa veio à tona. Os controladores fizeram greve, denunciaram. O efeito? foram presos, despedidos. O governo? prometeu verbas para esta área. Li hoje cedo na net que foram cortadas. Geralmente os efeitos de sustentar o nosso trabalho de modo correto são estes. Foi assim com os controladores de vôo e é assim com a maioria que ainda acredita em honestidade neste país.
A população? uma parte assistiu ao noticiário do acidente. Outra foi quem teve de atravessar o desespero de tanto descaso. Agora uma outra parte se soma à primeira. São mais duas centenas de brasileiros que choram a perda de alguém querido em uma situação que poderia ser evitada. Ainda há uma maioria que não passou por isto. Será preciso subverter estas estatísticas para que tomemos como causa exigir não sermos desconsiderados em nossos direitos de cidadãos?
Ontem saiu uma notícia de algumas medidas do governo, mas acho que já vimos isto antes. Promessas de ocasião. Ocasião de eleições e ocasião de tragédias.
Multidões se ajuntam no carnaval.
Multidões se ajuntam nas micaretas.
Uma multidão foi à abertura do PAN.
São eventos interessantes e importantes. O prazer é fundamental.
Mas porque não ouvimos a multidão comentar empolgada sobre ir à manifestações públicas contra o desmatamento, a corrupção, o preconceito, o desmando político?
Seria injusto não registrar que isto de vez em quando acontece. MAS é preciso que se torne tão rotineiro quanto discutir sobre futebol.

Tem uma campanha circulando na net exigindo medidas políticas urgentes e definitivas quanto ao Aeroporto de Congonhas.

http://www.gebh.net/oprimo/

16 de jul. de 2007

Paraty



Foto de JRL

Foto d JRL



Na Flip tinha parati paranós paratodos (ou quase todos) parasempre.
Lugar de tanta poesia que nem na lembrança cabe tudo.
Lugar de palavras mil. histórias mil. mil e umas.
Aqui tem mar. tem som. tem luz. tem riso. tem vontade de infinito tempo para uma infinita alegria. O tempo passa devagar e cada dia parece imperdível, mas dá vontade mesmo é que outros muitos mais estejam pela frente só para sonhar um dia voltar.
A noite chega tão de mansinho que de repente a luz é trêmula e o jogo de sombras faz poesia com a música que se espalha pelas esquinas. É violão, harpa, saxofone, flauta, agogô, tudo isto em um burburinho que se mistura aos sons de gente feliz. Cheiro de comida boa vem de cada janela. Jeito de "fica aqui um pouquinho" escapa de cada alameda.
As flores recobrem os muros. As cores enchem os olhos.
Os barcos lembram que navegar vale a pena. Colar os olhos no horizonte e ir. De lá se pode voltar a compreender a beleza do que ficou para trás. E retornar; depois; se assim for.
O coração dança e canta feliz.
Sotaques se misturam. Palavras não se escondem. Toda meia-verdade bem ali, na vida que te toma e convida a mais um pouco. A outras paraty paranós, parali mesmo ou paraoutros lugares.
Paraty não é uma cidade. É um encontro com os sonhos mais simples e preciosos.



Foto de JRL