30 de nov. de 2007

Cama de narcisos

insisto
nao resisto
para quê?
se é tão bom permitir o riso.
já não tão fácil
é sustentar o siso,
deixar cair o inciso.
fugir dos parágrafos
não temer cada letra
traçar grafos
admitir: viver é preciso.
se deleitar com o volátil
deitar em narcisos
e dizer: não resisto
insisto


(Liliane M. A. Silva)

21 de nov. de 2007

A um Inconfidente

Bem sei o que sentiste
Fazer da pena a espada
Fortalecer-se na palavra
Insubordinar-se
Libertar-se

Mas, caro poeta
Melhor não teria sido
Trançar futuro de alvíssaras?

Utópico companheiro
Mil vezes Graças
Ao destino de tão simplória escriba
Tua liberdade te escureceu horizontes
A minha os fará fulgurantes

Ainda hoje
ressoam teus versos,
indeléveis em cada frontispício.
Mas é de tristeza, saudade e solidão
Que repicam os sinos de seus verdejantes campos
Foi só em lágrimas que tua Marília findou

Se carregas as honras do heroísmo
também transportas
a verdade quase não sabida
da tragédia de ter abandonado
as ovelhas, deslumbrante céu, amor mais amado

Meu caro Dirceu!
Deixo a ti as honras e a glória
bordarei eu meu vestido
trançarei pães
dormirei sob estrelas
percorrerei outros heroísmos
acalentarei em meus seios
ternuras inescrutáveis

Você não o ouviu nestas pairagens
mas há um outro de ti
mais zangado
(talvez) mais indignado
mas tanto quanto, amado.
que avisava: "é que o amor é pão feito em casa"
Quisera tu tê-lo encontrado
Ter-se-ia, quem sabe?
Aos rogos de tua Marília capitulado
Sido humilde pedreiro
Acompanhado de tua janela
A São Francisco envelhecer
Assistido a luz se despedir
Com tua querida amanhecer

Ó você
que com um admirável mundo novo
Sonhou antes mesmo do próprio autor.
A ti um pouco de louvor
Um punhado de lamento
Dois tantos de agradecimento.
E só.
Eu
Escolho
o Amor.

(Liliane M. A. Silva)

putz

madrugada insone
desesperança de quem esperou
tristeza de quem confiou
lamento de quem acreditou
vergonha de ser bom?
melhor a serenidade do dever cumprido.
que ladrem os cães
que uivem os chacais
que a tempestade assopre
que escureça a noite.
para quem aposta no sonho
para quem escolhe o amor
tudo isto será arado
se tornará aerado
lembrança triste lá no passado.

(Liliane M. A. Silva)

13 de nov. de 2007

Afinar

O dia correu.
El sol em dia de rei.
Montanha sagrada,
paisagem adorada.
Antiga lavra,
agora é nova.

O dia correu.
Os passos foram refeitos.
Antigo caminho,
agora acertado.
Se despedindo: o sol e eu.

A Lua nasceu.
Cheiro bom de tanto tempo.
Luz amarela escapulindo em vãos.

A noite desceu.
Sons que só reverberam na alma,
transformam o alarido em vazio.
Refazem a noite em antigas madrugadas,
em céu infinitamente estrelado
em sonho infinitamente sonhado.

A madrugada floresceu
Até a manhã chegar
É aqui que vou ficar.
Suspensa entre lavras novas e ouro preto.

Dia del sol, em dia que já foi só de chuva.
É hora de a-finar um momento.
É hora de afinar novo tempo.
Achar a rima
ouvir Alice e amar Abèlard.

(Liliane M. A. Silva)

a-Finado

Dia del sol em dia que já foi só de chuva.
Beira do caminho.
Estrada real.
Passarim ficou escondido,
do rádio que toca funk.
Tanto alarido, tanto ruído.
Só para disfarçar a falta de graça.
Também pode ser
para escapar de tão simples Graça.
É que o dia já vai bonito, calmo, bom.
E quem dá conta de tanto?
É preciso disfarçar que se é feliz.
Gonzaguinha avisou.
A gente cantou.
Mas sei lá se adiantou.
Música que não nasce da alma
Poesia que não escalavra lembranças
Só faz fazer ruído, alarido.
Sair da rima, desafinar.
Ouvir piriguete.

(Liliane M. A. Silva)

11 de nov. de 2007

.

vez em quando fico prisioneira de palavras incomensuráveis.
restam as letras imagináveis.

(Liliane M. A. Silva)

8 de nov. de 2007

sinhazinha

pra pensar sei não.
ficar sinhazinha,
a medir o desvão.
insisto.
apenas pra pensar em vão.


(Liliane M. A. Silva)